terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O problema do mal

Escrito por Carlos Ramalhete | 04 Fevereiro 2013 

 

O mal, mais ainda um mal tão sem sentido, comprova-se a exceção.

A Teodicéia, também conhecida como “o problema do mal”, é um tema filosófico constante. A melhor resposta a este problema é que o mal é a exceção, a desordem, a ausência de bem, como o escuro é a ausência de luz e o frio, a ausência de calor.

Assim como no frio nos lembramos do calor e no escuro desejamos a luz de uma vela, a presença do mal acaba levando a uma percepção mais aguda de que há um Bem, e que este Bem predomina.
Pude perceber isso em dois planos radicalmente diferentes, nestes dias. No desimportante plano pessoal, um susto com a saúde me fez cruzar as portas de um hospital, o que sempre tento evitar. Recebi centenas de mensagens de apoio; amigos de todos os credos, do Daime ao calvinismo, do catolicismo ao ateísmo, expressaram de alguma forma uma intenção de unir-me ou recomendar-me ao Bem maior.
Pouco depois, a horrenda tragédia que ceifou centenas de vidas em Santa Maria suscitou uma resposta proporcionalmente maior, mas na mesma direção. Ao contrário do que ocorrera comigo, contudo, não foi a preexistência de afeto pessoal que comoveu os orantes, dentre os quais se contou até mesmo uma cantora mais conhecida por suas blasfêmias.
Foi a intensidade do mal, a escuridão avassaladora, o frio absoluto de uma tragédia tão sem sentido que fez com que multidões, no mundo inteiro, voltassem os olhos ao Bem.
O mal, mais ainda um mal tão sem sentido, comprova-se a exceção. E a exceção não só confirma a regra – quantas multidões se reúnem pacificamente, sem mortes, sem tragédias? – como a torna mais forte e atrai a ela. A ausência do bem faz perceber seu valor e sua ubiquidade.
Minha filha, ainda pequena, estava triste por alguma coisa de criança. Andava pelo quintal, fazendo bico. Pouco depois minha irmã a encontrou sorrindo, e perguntou-lhe se a tristeza já havia passado. Respondeu-lhe a pequena que havia visto uma linda borboleta azul, que levara a tristeza embora.
Essas “borboletas” mágicas, com o dom de iluminar os cantos escuros da nossa alma, sempre estão ao nosso redor: no sol que nasce, no carinho dos amigos, no gosto bom de um cálice de vinho.
O difícil é encontrá-las, abraçá-las, reconhecê-las. Por vezes, é só a escuridão absoluta de uma tragédia que nos faz ter a força de voltar o olhar para a luz. Alguma luz. Qualquer luz.
Nada pode preencher o vazio da perda de um filho, de alguém que se ama. Mas ao redor deste vazio ainda há, sempre, reflexos do Bem. E é isso o que se expressa nas orações sinceras dos desconhecidos. Que elas sejam sempre ouvidas.


Carlos Ramalhete
é professor.

Publicado no jornal Gazeta do Povo.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Qual é a diferença básica entre a Esquerda e a Direita ?



Hoje existe uma grande confusão entre Esquerda e Direita. 


Por exemplo, defender um capitalismo selvagem não significa que se é “de direita”. Por outro lado, defender uma maior intervenção do Estado na regulação da economia não significa necessariamente que se é da esquerda. 


Há políticos que se dizem da Direita mas que na realidade não o são, porque “ser de direita” implica uma determinada visão do ser humano — e “ser de esquerda” implica outra visão, diferente, do ser humano. O que marca distintamente a diferença entre Esquerda e Direita, em um determinado indivíduo, é a forma como ele concebe o ser humano — e não a forma como ele vê a economia. 


Um indivíduo de direita segue os princípios da cultura ancestral — conforme Mircea Eliade nos relatou nos seus livros de investigação antropológica — que se baseiam no conceito de “pecado original” que é comum a todas as culturas passadas e presentes. O ser humano é visto como um “anjo caído”, um “animal ferido” na sua origem ontológica, e o objetivo da política é o de suprir as lacunas dessa fraqueza originária humana mediante instituições fortes e que se fundamentem na herança histórica e na experiência do passado. O indivíduo de direita é um herdeiro de uma civilização, e ao mesmo tempo é o transmissor dessa civilização para as gerações futuras. Para um indivíduo de direita, a tradição é a condição do progresso. 


Um indivíduo de esquerda recusa a herança da tradição porque acredita que o futuro é portador de maior felicidade e de sempre crescente liberdade, e considera o passado como limitador dessa felicidade e dessa liberdade. Para o indivíduo de esquerda, a política significa romper com a tradição em nome do progresso. Para a esquerda, o ser humano é um ser naturalmente bom (o “bom selvagem”, de Rousseau) e sem “pecado original”, que tende, pelo sentido da História, a um progresso em direcção à perfeição (Historicismo, e o “progresso” visto como uma lei da natureza), sendo que considera que os “arcaísmos do passado” são obstáculos a ser removidos em função desse progresso rumo à perfeição do ser humano — e a política é vista como uma forma de libertação desse “passado arcaico”. A forma como um indivíduo vê o grau de intervenção do Estado na economia está ligada à sua sensibilidade ética, e não ao facto de ser de direita ou de esquerda. Naquilo a que se convencionou chamar de Esquerda e Direita, existem pessoas com sensibilidade ética e outras que são eticamente empedernidas. Podemos encontrar brutos nas denominadas “Esquerda” e “Direita”, pessoas que são insensíveis aos sentimentos e emoções — assim como existem pessoas “duras de ouvido” e que não são sensíveis à música. 


Assim, é possível a um bruto defender o totalitarismo de Estado, e a um outro bruto defender o capitalismo selvagem e o darwinismo-social. São, ambas, formas embrutecidas de ver a realidade, e que se prendem unicamente com a afirmação supremacista do princípio do interesse próprio.

Fonte: http://espectivas.wordpress.com/2013/01/16/qual-e-a-diferenca-basica-entre-a-esquerda-e-a-direita/

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Por que virei à direita


Virar à direita acontece nas melhores famílias. Aconteceu na minha. Juro que tentei. Ser de esquerda tem as suas vantagens. Consola a alma e consola os outros. Os homens nasceram livres e, no entanto, encontram-se aprisionados em toda a parte? Difícil resistirão começo mais subversivo da filosofia política moderna.

O pior vem depois: como acreditar que homens intrinsecamente bons são capazes de engendrar arranjos políticos intrinsecamente maus para aprisionar homens intrinsecamente bons? A pergunta tem sido repetida por fornadas sucessivas de liberais clássicos ou conservadores de cepa variável. E não é preciso chafurdar no charco do pessimismo antropológico para vislumbrar no filme de Rousseau uma contradição insanável.

Pena que o próprio Jean-Jacques nunca a tenha resolvido. Também não precisou. Bastou denunciar o crime – o crime da “civilização” sobre o “bom selvagem” – e os discípulos fizeram o resto.

Li Rousseau na idade certa. E, na idade certa, senti a tentação: a tentação da vaidade, como lhe chamou Edmund Burke, o fundador do conservadorismo moderno. Na sua Letter to a Member of the National Assembly (1971), um texto complementar das famosas Reflections on the Revolution in France (1790), Burke fazia uma acusação que só gente pedestre considera pedestre: Rousseau, o amante da humanidade, fora incapaz de amar o seu “pequeno pelotão”. Abandonar os filhos na roda não é cartão  de visita para o patriarca do sentimentalismo.

O problema é que nunca é. O sentimentalismo é uma falsificação do sentimento que, exibido em público, normalmente denuncia um canalha. Falo por experiências próprias – ou, melhor dizendo, impróprias. Virei à direita por ver no amor à humanidade uma forma de inumanidade.


 - João Pereira Coutinho, “Porque virei à direita”. Pag. 25

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Aguardem!!

Olá senhoras e senhores moças e rapazes... Meu blog está em construção. Espero terminá-lo na próxima semana (ainda há muito o que fazer). Tomara que seja interessante da parte de vocês, embora eu nunca tivesse um blog... Deixo aqui minhas saudações. Até mais!